PRÓLOGO

Era uma noite agradável no fim do outono e a brisa suave indicava que o inverno se aproximava. Sentia-se bem observando a paisagem de Miriade, seu reino. Parecia que finalmente poderia dormir em paz.

Desde que Elarion, o negro aparecera em suas terras, obcecado por poder e pela riqueza, suas noites nunca mais foram calmas. Agora podia sentir-se em paz, pois na manhã daquele dia Elarion fora decapitado.

Ainda podia sentir a febre de batalha. Em sua mente repetia os movimentos realizados com a maestria de sempre por suas mãos. O duelo fora intenso, porém a habilidade de batalha do necromante não se equiparava a de John. Elarion em uma tentativa desesperada de sobreviver aparava os golpes de John com seu cajado. Pobre homem. Seu cajado adornado com pequenos crânios e revestido com tiras de couro draconiano não suportaria por muito tempo os golpes dados com Ignis a espada de sua família, temperada em sangue de dragão nos tempos da antiga Miriade (quando seus ancestrais envolviam-se com feitiçaria).

Enquanto aparava os golpes Elarion proferia palavras que pareciam xingamentos em uma língua estranha, até que num golpe surdo de John, o cajado se partiu ao meio. O feiticeiro arregalou os olhos, numa expressão estarrecida. Finalmente num silvo cortante a execução do golpe de misericórdia. A cabeça do necromante caiu num baque surdo no chão enquanto seu corpo se desfazia em fumaça negra.

Trouxera para seu castelo a cabeça do verme como troféu.

Seus devaneios foram interrompidos pela entrada de Ariana em seu quarto. Pele alva, cabelos com cachos alongados e negros assim como seus olhos. Aqueles olhos...Sua beleza definitivamente era digna de uma rainha. Vestia apenas véus de seda que delineavam sensualmente seu corpo bem distribuído. Ela aproximou-se, abraçou-o pelas costas e sussurrou em seu ouvido:

- Meu amor diga-me: porque você teve que trazer a cabeça do necromante para nossa casa?

- Os homens devem ver o poder de seu líder. Nem aquele homem que se dizia acima da morte sobreviveu ao meu poder.

Subitamente uma gota de lágrima caiu sobre seus ombros Ariana se afastou. Intrigado com a reação de sua rainha John virou-se. A cena era assustadora: Um pequeno fio de fluido viscoso escorria do pulso esquerdo de Ariana e alimentava uma pequena poça que começava a se acumular no chão. Nesse fio de sangue Ariana banhava uma adaga miriadiana.

Ela avançou e antes que o Rei pudesse reagir uma dor aguda dominou seu corpo. A adaga atravessou seu ombro direito. O gosto de sangue viera imediatamente em sua boca.

Aos prantos Ariana disse:

- Trazer a cabeça daquele homem para cá, nos amaldiçoou eternamente, era o único jeito. Eu não poderia deixar que você se perdesse junto comigo.

- Você será salvo pelo meu sangue e pela magia de seus ancestrais.

Ariana, colocou ao lado de John agonizante a adaga, seus principais e mais valiosos pertences.

A visão de John começou a desvanecer. Aos poucos todo o quarto fora tomado por uma bruma negra. Atrás de Ariana pairava no ar a cabeça de Elarion, sombria e assustadora. Os olhos do necromante brilhavam como duas estrelas solitárias em uma noite profunda. As trevas extendiam-se a partir da cabeça flutuante, contorcendo-se como serpentes que aos poucos engoliam tudo. A porta, sua cama, seu quarto, seu castelo e por fim Ariana. Antes de desaparecer ela disse uma última vez:

-Eu te amo.

Sussurros ecoaram pelas paredes do quarto.

Subitamente John acordou.